domingo, 20 de setembro de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
O Parafuso 9
Um dia o Sr. António Fragueiro, pai de Nelita, pensou lá para os seus botões que estaria já na devida altura da sua filha desposar algum comerciante de gado da região, visto que a populaça andaria já a cochichar sobre os verdadeiros intuitos que motivavam as incursões à mata da vila.
Facto é que Nelita, ante a proposta do pai em arranjar-lhe um maridúncio a preceito, revoltou-se e recusou tal ideia. Bem, o Sr. António Fragueiro viu-se então coagido a mandá-la para o Convento de Santa Ana por forma a silenciar a populaça que cada vez mais fazia rumor sobre a questão.
Nelita e Arnaldo anuíram que o mais sensato seria não contestar a decisão do Sr. António Fragueiro, até porque assim aproveitaria a possibilidade para estudar num qualquer métier que lhe viesse a dar frutos no futuro. Nelita, para além de uma grande mulheraça, era uma mulher muito inteligente e interessava-se bastante pela leitura e era um ás a contar as receitas no final de cada eucaristia. Os dois acordaram que trocariam correspondência e assim não perderiam o contacto um com o outro.
E assim foi, em menos de um mês Nelita ingressou no Convento de Santa Ana para estudar Latim, Francês, Português e Matemática. A Dona Ermelinda é que não cabia em si de contente! Ter uma filha freira! Era uma ideia que a fascinava, pois teria sido o sonho da vida dela, mas o pai, avô de Nelita, obrigou-a a casar com o homem mais rico e influente da região, claro está o Sr. António Fragueiro!
Os dias foram passando e Nelita vivia os dias em autêntica clausura, alimentada apenas pela esperança em receber as cartas de amor de Arnaldo. Mas…nunca chegaram! Apenas a mãe escrevia relatando as novidades da vila.
Os únicos instantes em que se conseguia abstrair dos momentos passados junto de Arnaldo, eram os que passava com o Mestre Alípio que era o seu professor particular das várias disciplinas atrás referidas.
O Mestre Alípio era um rapazote de cerca de 25 anos, sobrinho da Madre superiora, que vivia enfiado lá no Convento e que acreditava muito em Nelita. Ele pensava que ela poderia vir a tornar-se numa belíssima professora do ensino básico e sentia que deveria ser ele o verdadeiro impulsionador para que tal acontecesse.
Entretanto, Nelita sonhava com notícias de Arnaldo e, de facto, elas não tardaram em chegar…
Numa carta da sua mãe, a Sra. Dona Ermelinda conta em duas linhas que o sacristão Arnaldo, o futuro padre, teria morrido engasgado com um osso de frango na casa comercial da Sra. Dona Gertrudes, sita na Rua do Almirante.
Nelita não acreditava no que os seus olhos liam! O seu amor frequentava a casa da Sra. Dona Gertrudes? Entretanto, Nelita tinha já entendido o que de facto aquela casa comercializava…
Pena ter morrido, senão teria apanhado o primeiro comboio rumo a Barroselas para lhe exigir as devidas satisfações!
Facto é que Nelita, ante a proposta do pai em arranjar-lhe um maridúncio a preceito, revoltou-se e recusou tal ideia. Bem, o Sr. António Fragueiro viu-se então coagido a mandá-la para o Convento de Santa Ana por forma a silenciar a populaça que cada vez mais fazia rumor sobre a questão.
Nelita e Arnaldo anuíram que o mais sensato seria não contestar a decisão do Sr. António Fragueiro, até porque assim aproveitaria a possibilidade para estudar num qualquer métier que lhe viesse a dar frutos no futuro. Nelita, para além de uma grande mulheraça, era uma mulher muito inteligente e interessava-se bastante pela leitura e era um ás a contar as receitas no final de cada eucaristia. Os dois acordaram que trocariam correspondência e assim não perderiam o contacto um com o outro.
E assim foi, em menos de um mês Nelita ingressou no Convento de Santa Ana para estudar Latim, Francês, Português e Matemática. A Dona Ermelinda é que não cabia em si de contente! Ter uma filha freira! Era uma ideia que a fascinava, pois teria sido o sonho da vida dela, mas o pai, avô de Nelita, obrigou-a a casar com o homem mais rico e influente da região, claro está o Sr. António Fragueiro!
Os dias foram passando e Nelita vivia os dias em autêntica clausura, alimentada apenas pela esperança em receber as cartas de amor de Arnaldo. Mas…nunca chegaram! Apenas a mãe escrevia relatando as novidades da vila.
Os únicos instantes em que se conseguia abstrair dos momentos passados junto de Arnaldo, eram os que passava com o Mestre Alípio que era o seu professor particular das várias disciplinas atrás referidas.
O Mestre Alípio era um rapazote de cerca de 25 anos, sobrinho da Madre superiora, que vivia enfiado lá no Convento e que acreditava muito em Nelita. Ele pensava que ela poderia vir a tornar-se numa belíssima professora do ensino básico e sentia que deveria ser ele o verdadeiro impulsionador para que tal acontecesse.
Entretanto, Nelita sonhava com notícias de Arnaldo e, de facto, elas não tardaram em chegar…
Numa carta da sua mãe, a Sra. Dona Ermelinda conta em duas linhas que o sacristão Arnaldo, o futuro padre, teria morrido engasgado com um osso de frango na casa comercial da Sra. Dona Gertrudes, sita na Rua do Almirante.
Nelita não acreditava no que os seus olhos liam! O seu amor frequentava a casa da Sra. Dona Gertrudes? Entretanto, Nelita tinha já entendido o que de facto aquela casa comercializava…
Pena ter morrido, senão teria apanhado o primeiro comboio rumo a Barroselas para lhe exigir as devidas satisfações!
O Parafuso 8
Pois bem, o encontro entre Nelita e o futuro padre deu-se no domingo seguinte, antes da eucaristia.
Estava Nelita na sacristia, a receber instruções do Sr. Pároco, o Sr. Padre Alcides, a respeito das leituras que deveriam ser distribuídas pelas crianças por altura da Festa da Luz, quando de rompante entra o Arnaldo na sacristia.
Assustada com a impetuosa entrada, Nelita solta um grito atirando para o chão a resma de folhas que estava nas suas mãos com as leituras das crianças. Prontamente Arnaldo ajuda Nelita a recolher as leituras do chão e é aí que Nelita estremece pela primeira vez, pois nunca antes tinha estado tão próxima de um homem. Ai, ai! Ui, ui!
Alheio ao impacto provocado em Nelita, o Sr. Padre Alcides apresenta os dois jovens e informa que ambos passariam a trabalhar em conjunto na organização da dita Festa da Luz. Com o passar dos dias os encontros entre os dois foram-se tornando mais frequentes, à custa da bendita festa, e a timidez inicial foi dando lugar à partilha de ideais e de risos joviais. Assim, ao cabo de algumas semanas os dois jovens tornaram-se amigos inseparáveis, embora secretamente ambos nutrissem um pelo outro um afecto que os levava a desejar ardentemente sentir o calor dos braços um do outro…
Bem, bem! Estamos mesmo a visionar o estreitar de laços, que se viria a constatar, entre os dois. E assim foi!
Nelita era considerada a jovem mais bonita de Barroselas, os seus cabelos perfumados eram lisos e negros roçando no queixo, os dentes de uma alvura incomparável e perfeitamente alinhados contrastavam com os seus perfeitos lábios rosados de curva dupla irrepreensível, os seus cílios eram longos e vastos dando-lhe um olhar extremamente sedutor e em cada bochecha um conjunto de sardas minúsculas conferiam-lhe um ar de menina.
Nelita contava com 15 anos e no seu corpo já se delineavam as curvas de uma verdadeira mulheraça! De peito espetado usando um bom 38, nádegas firmes e rijas cujo bambolear fazia as delícias de todos os homens, rapazes e meninos da região, as saias que usava faziam adivinhar umas coxas firmes e bem torneadas, o que provocava nos homens o desejo de se sentirem apertados entre elas, Nelita era um perfeito exemplar feminino!
Chegado o dia da festa, fez-se a festa! Caros amigos, os pormenores da festa não são muito importantes, mas sim o que viria a acontecer depois.
Estavam Nelita e Arnaldo na sacristia já no final do dia, quando Nelita ao passar por Arnaldo, que estava sentado num dos extremos da secretária do Sr. Padre Alcides reorganizando uns quaisquer papéis, roça despropositadamente com a sua coxa na coxa de Arnaldo. A leveza do toque despoleta neles um vulcão de desejo que somente nos braços um do outro conseguiram acalmar. E eis que Nelita passou a conhecer os verdadeiros prazeres da carne!
Episódios como este foram-se seguindo dia após dia. Diz quem os visse que eles não se largavam, até aos domingos à tarde eram vistos a passar lá para os lados da mata em busca de tranquilidade para preparação das festas religiosas da paróquia. Ah, pois!
Estava Nelita na sacristia, a receber instruções do Sr. Pároco, o Sr. Padre Alcides, a respeito das leituras que deveriam ser distribuídas pelas crianças por altura da Festa da Luz, quando de rompante entra o Arnaldo na sacristia.
Assustada com a impetuosa entrada, Nelita solta um grito atirando para o chão a resma de folhas que estava nas suas mãos com as leituras das crianças. Prontamente Arnaldo ajuda Nelita a recolher as leituras do chão e é aí que Nelita estremece pela primeira vez, pois nunca antes tinha estado tão próxima de um homem. Ai, ai! Ui, ui!
Alheio ao impacto provocado em Nelita, o Sr. Padre Alcides apresenta os dois jovens e informa que ambos passariam a trabalhar em conjunto na organização da dita Festa da Luz. Com o passar dos dias os encontros entre os dois foram-se tornando mais frequentes, à custa da bendita festa, e a timidez inicial foi dando lugar à partilha de ideais e de risos joviais. Assim, ao cabo de algumas semanas os dois jovens tornaram-se amigos inseparáveis, embora secretamente ambos nutrissem um pelo outro um afecto que os levava a desejar ardentemente sentir o calor dos braços um do outro…
Bem, bem! Estamos mesmo a visionar o estreitar de laços, que se viria a constatar, entre os dois. E assim foi!
Nelita era considerada a jovem mais bonita de Barroselas, os seus cabelos perfumados eram lisos e negros roçando no queixo, os dentes de uma alvura incomparável e perfeitamente alinhados contrastavam com os seus perfeitos lábios rosados de curva dupla irrepreensível, os seus cílios eram longos e vastos dando-lhe um olhar extremamente sedutor e em cada bochecha um conjunto de sardas minúsculas conferiam-lhe um ar de menina.
Nelita contava com 15 anos e no seu corpo já se delineavam as curvas de uma verdadeira mulheraça! De peito espetado usando um bom 38, nádegas firmes e rijas cujo bambolear fazia as delícias de todos os homens, rapazes e meninos da região, as saias que usava faziam adivinhar umas coxas firmes e bem torneadas, o que provocava nos homens o desejo de se sentirem apertados entre elas, Nelita era um perfeito exemplar feminino!
Chegado o dia da festa, fez-se a festa! Caros amigos, os pormenores da festa não são muito importantes, mas sim o que viria a acontecer depois.
Estavam Nelita e Arnaldo na sacristia já no final do dia, quando Nelita ao passar por Arnaldo, que estava sentado num dos extremos da secretária do Sr. Padre Alcides reorganizando uns quaisquer papéis, roça despropositadamente com a sua coxa na coxa de Arnaldo. A leveza do toque despoleta neles um vulcão de desejo que somente nos braços um do outro conseguiram acalmar. E eis que Nelita passou a conhecer os verdadeiros prazeres da carne!
Episódios como este foram-se seguindo dia após dia. Diz quem os visse que eles não se largavam, até aos domingos à tarde eram vistos a passar lá para os lados da mata em busca de tranquilidade para preparação das festas religiosas da paróquia. Ah, pois!
O Parafuso 7
Conhecendo como conhecia de cor a cabeça de Dassilva, assim como as de praticamente todos os moços de S. Pedro que no despertar da comichão na zona púbica começavam a dar mais atenção às imagens das revistas coloridas escondidas entre os jornais diários do que às tiras de Agentes Secretos X9, Fantasmas e Doutores Kildaires, e sabendo que os Vilhenas eram as publicações que ficavam no meio do Primeiro de Janeiro quando a rapaziada estudava vagarosamente o jornal enquanto aguardava impacientemente a vez de ser tesourada, o Sr. Fragulho não pôde deixar de reparar no súbito desabrochar do rapaz, que para além de começar a ganhar pêlos por tudo quanto era canto do crânio passou a ser um dos clientes mais assíduos da barbearia e sempre o único a acabar as palavras cruzadas sem copiar pelas soluções.
Um pormenor despertou a curiosidade de Fragulho: o rapaz começou a tirar o seu novo par óculos e a guardá-los religiosamente no cantinho da estante onde se perfilavam as estatuetas de um cagão das Caldas, um S. João com a auréola partida e uma peça em verde fosforescente, à primeira vista uma Nossa Senhora de Fátima mas mais a pormenor uma espécie de híbrido entre uma matrioska e um Buda, e não quis interrogar Dassilva sobre a razão de pousar os óculos para se entreter com a leitura e a escrita partindo do princípio se destinariam a ver melhor ao longe, preferindo perguntar-lhe em que capítulo estava na leitura do “Uma família Inglesa”, que sabia ser o seu livro de cabeceira desde os dois cortes de cabelo anteriores.
Fragulho falava frequentemente e com natural orgulho na sua sobrinha Noeminha, mas quando Dassilva estava presente referia-se mais aos atributos físicos da menina, “passou a usar o cabelo em carrapito”, “a madrinha ofereceu-lhe uns brincos e um colar que lhe ficam a matar com o coletinho que a mãe lhe mandou fazer àquela costureira mamalhuda da mercearia do França”, “comprou uma bata na Praça dos Leões daquelas que os médicos usam sem roupa nenhuma por baixo”…, e menos à sua vocação de enfermeira e ao brilho com que singrava no curso, frases nitidamente destinadas a baralhar a líbido de Dassilva que, no meio de um sinónimo de “atordoar” à mistura com o desenho dos mamilos exageradamente erectos de uma “República” das do Vilhena lá lhe ia desviando a conversa, falando do Manuel Quintino e da coincidência do 1º de Abril ter calhado a um domingo “como vai ser este ano” e da beleza do areal de Quebrantões “que não hei-de morrer sem lá ir nem que seja a nado”, frases que Fragullho ripostava com “ sempre que cá vens é dia dos mentirosos, andas mas é a cortar o cabelo noutro lado e aqui é só para ler os Tintins” e “Quebrantões quebro-te eu essas trombas à navalhada se te enganas um milímetro que seja na risca ao lado que eu te fiz a semana passada”.
O mistério da posição dos óculos, sempre cuidadosamente encostados ao braço esquerdo do cagão cada vez que Dassilva entrava na barbearia e os colocava na estante adensava-se na cabeça do barbeiro, que resolveu ir ao armarito azul por baixo do calendário da Firestone e sacar da garrafita de “White Horse” que o irmão Tonho lhe tinha trazido de Hamburgo, regularmente atestada com bagaço de cereja, e oferecer a Dassilva “quero que se foda o Júlio Dinis e mais a puta da família inglesa, vais mas é tomar um capilé comigo que está na alturinha de termos uma conversa de homens”.
Que remédio aceitar, naquele final de manhã era o único cliente e quando espreitava o cantinho do dominó da mercearia do França bem ficava a ougar os capilés e os refrescos de groselha nas mesas enfumaradas de jogo, descuidou-se foi com a papelada que lhe caiu de dentro do jornal quando se levantou para pegar no copo que Fragulho lhe estendeu, revelando os decalques de anatomia feminina em papel vegetal juntamente com uma pequena fita métrica amarela, que durante meses sempre conseguiu esconder do barbeiro.
Um pormenor despertou a curiosidade de Fragulho: o rapaz começou a tirar o seu novo par óculos e a guardá-los religiosamente no cantinho da estante onde se perfilavam as estatuetas de um cagão das Caldas, um S. João com a auréola partida e uma peça em verde fosforescente, à primeira vista uma Nossa Senhora de Fátima mas mais a pormenor uma espécie de híbrido entre uma matrioska e um Buda, e não quis interrogar Dassilva sobre a razão de pousar os óculos para se entreter com a leitura e a escrita partindo do princípio se destinariam a ver melhor ao longe, preferindo perguntar-lhe em que capítulo estava na leitura do “Uma família Inglesa”, que sabia ser o seu livro de cabeceira desde os dois cortes de cabelo anteriores.
Fragulho falava frequentemente e com natural orgulho na sua sobrinha Noeminha, mas quando Dassilva estava presente referia-se mais aos atributos físicos da menina, “passou a usar o cabelo em carrapito”, “a madrinha ofereceu-lhe uns brincos e um colar que lhe ficam a matar com o coletinho que a mãe lhe mandou fazer àquela costureira mamalhuda da mercearia do França”, “comprou uma bata na Praça dos Leões daquelas que os médicos usam sem roupa nenhuma por baixo”…, e menos à sua vocação de enfermeira e ao brilho com que singrava no curso, frases nitidamente destinadas a baralhar a líbido de Dassilva que, no meio de um sinónimo de “atordoar” à mistura com o desenho dos mamilos exageradamente erectos de uma “República” das do Vilhena lá lhe ia desviando a conversa, falando do Manuel Quintino e da coincidência do 1º de Abril ter calhado a um domingo “como vai ser este ano” e da beleza do areal de Quebrantões “que não hei-de morrer sem lá ir nem que seja a nado”, frases que Fragullho ripostava com “ sempre que cá vens é dia dos mentirosos, andas mas é a cortar o cabelo noutro lado e aqui é só para ler os Tintins” e “Quebrantões quebro-te eu essas trombas à navalhada se te enganas um milímetro que seja na risca ao lado que eu te fiz a semana passada”.
O mistério da posição dos óculos, sempre cuidadosamente encostados ao braço esquerdo do cagão cada vez que Dassilva entrava na barbearia e os colocava na estante adensava-se na cabeça do barbeiro, que resolveu ir ao armarito azul por baixo do calendário da Firestone e sacar da garrafita de “White Horse” que o irmão Tonho lhe tinha trazido de Hamburgo, regularmente atestada com bagaço de cereja, e oferecer a Dassilva “quero que se foda o Júlio Dinis e mais a puta da família inglesa, vais mas é tomar um capilé comigo que está na alturinha de termos uma conversa de homens”.
Que remédio aceitar, naquele final de manhã era o único cliente e quando espreitava o cantinho do dominó da mercearia do França bem ficava a ougar os capilés e os refrescos de groselha nas mesas enfumaradas de jogo, descuidou-se foi com a papelada que lhe caiu de dentro do jornal quando se levantou para pegar no copo que Fragulho lhe estendeu, revelando os decalques de anatomia feminina em papel vegetal juntamente com uma pequena fita métrica amarela, que durante meses sempre conseguiu esconder do barbeiro.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
O Parafuso 6
O Gulho, rapaz esperto, acabou a 4ª classe com distinção, no entanto não pode prosseguir estudos com muita pena da sua professora primária, Dona Ausenda, a qual previa um futuro brilhante para o rapaz porque, para além de bom aluno era forte em oratória, por isso a professora imaginava vê-lo como futuro advogado no Porto.
Os pais de Gulho que, como já vimos anteriormente, eram pessoas de parcos recursos, resolveram apostar as suas economias na neta Noeminha e deixar o Gulho a esgravatar o seu futuro.
O rapaz foi, aos 11 anos, trabalhar para a barbearia do Sr. Zeca, aí aprendeu as arte de barbeiro e aos 14 anos já era homem de confiança do velho barbeiro. Na barbearia além de cortar cabelo também lia "A Bola" aos clientes, na sua maioria analfabetos e chegou mesmo a criar uma tertúlia cultural onde lia alguns dos maiores poetas portugueses. Grande parte dos clientes não entendiam o que ouviam, mas como achavam que aquilo devia ter algum valor, incentivavam o Gulho a procurar horizontes mais largos.
O Gulho não via qualquer futuro caso continuasse a viver em Possacos e por isso insistiu com o pai que falasse com o Dr. Antunes para lhe arranjar um trabalhito no Porto.
Depois de muita pedinchice do Sr. Fragulho e a promessa deste que na próxima colheita daria uma fatia ainda maior ao Dr. Antunes, este condescendeu e mandou o rapaz apresentar-se no Porto no sábado seguinte, que lá lhe arranjaria algo onde o rapaz pudesse dar asas à sua ambição, mas deixou bem claro que era um favor tão grande que fazia que não chegava aumentar a sua quota parte nas colheitas, muito menos só por um ano, por isso o velho Fragulho teria de pagar bem caro a ajuda desinteressada que lhe dava. Além da colheitas aumentou-lhe de forma absurda os trabalhos de manutenção que teria de fazer na sua quinta acentuando ainda mais a condição de servo da gleba, como se o Mundo em Trás-os-Montes tivesse parado há 600 anos atrás.
O Gulho não cabia em si de contente, aos 16 anos ia finalmente dar o salto para a grande cidade e realizar o seu sonho de se tornar poeta.
Sábado, pelas nove da manhã, lá estava o Gulho perfilado na paragem da camioneta que fazia a ligação de Vinhais ao Porto. Vestido com o seu fatinho domingueiro e uma mala de cartão com duas ou três mudas de roupa. perfilado na paragem da camioneta que fazia a ligação de Vinhais ao Porto não conseguia controlar o seu entusiasmo, suando como um desalmado apesar da manhã de inverno estar fria e os campos cobertos de geada.
Após cinco horas de viagem para percorrer a distância de cerca de200 Km que separa Possacos do Porto, lá chegou o Gulho à Rua das Fontaínhas, terminus da camioneta, onde o esperava o Dr. Antunes.
Os pais de Gulho que, como já vimos anteriormente, eram pessoas de parcos recursos, resolveram apostar as suas economias na neta Noeminha e deixar o Gulho a esgravatar o seu futuro.
O rapaz foi, aos 11 anos, trabalhar para a barbearia do Sr. Zeca, aí aprendeu as arte de barbeiro e aos 14 anos já era homem de confiança do velho barbeiro. Na barbearia além de cortar cabelo também lia "A Bola" aos clientes, na sua maioria analfabetos e chegou mesmo a criar uma tertúlia cultural onde lia alguns dos maiores poetas portugueses. Grande parte dos clientes não entendiam o que ouviam, mas como achavam que aquilo devia ter algum valor, incentivavam o Gulho a procurar horizontes mais largos.
O Gulho não via qualquer futuro caso continuasse a viver em Possacos e por isso insistiu com o pai que falasse com o Dr. Antunes para lhe arranjar um trabalhito no Porto.
Depois de muita pedinchice do Sr. Fragulho e a promessa deste que na próxima colheita daria uma fatia ainda maior ao Dr. Antunes, este condescendeu e mandou o rapaz apresentar-se no Porto no sábado seguinte, que lá lhe arranjaria algo onde o rapaz pudesse dar asas à sua ambição, mas deixou bem claro que era um favor tão grande que fazia que não chegava aumentar a sua quota parte nas colheitas, muito menos só por um ano, por isso o velho Fragulho teria de pagar bem caro a ajuda desinteressada que lhe dava. Além da colheitas aumentou-lhe de forma absurda os trabalhos de manutenção que teria de fazer na sua quinta acentuando ainda mais a condição de servo da gleba, como se o Mundo em Trás-os-Montes tivesse parado há 600 anos atrás.
O Gulho não cabia em si de contente, aos 16 anos ia finalmente dar o salto para a grande cidade e realizar o seu sonho de se tornar poeta.
Sábado, pelas nove da manhã, lá estava o Gulho perfilado na paragem da camioneta que fazia a ligação de Vinhais ao Porto. Vestido com o seu fatinho domingueiro e uma mala de cartão com duas ou três mudas de roupa. perfilado na paragem da camioneta que fazia a ligação de Vinhais ao Porto não conseguia controlar o seu entusiasmo, suando como um desalmado apesar da manhã de inverno estar fria e os campos cobertos de geada.
Após cinco horas de viagem para percorrer a distância de cerca de200 Km que separa Possacos do Porto, lá chegou o Gulho à Rua das Fontaínhas, terminus da camioneta, onde o esperava o Dr. Antunes.
O Parafuso 5
O Sr. Fragulho, ou simplesmente Gulho, como o tratavam carinhosamente os amigos, vá lá saber-se porquê, era um personagem fascinante.
Nascido na aldeia de Possacos, entre Valpaços e Vinhais, era o nono filho macho do casal Fragulho, o rapaz tinha sido a última e desesperada tentativa do casal conseguir uma menina. Quando nasceu já a mãe andava na casa dos quarenta e o pai na dos cinquenta.
Dos seus oito irmãos já tinham morrido quatro. Um dois dias depois do parto, dois com menos de três anos e o quarto afogou-se por volta dos dez anos no rio que passava próximo da aldeia quando se encontrava a fazer uma exibição de mergulho para os amigos.
Dos quatro sobreviventes, todos muito mais velhos que o Gulho, não havia rasto. Devidos às péssimas condições de vida todos tinham abandonado a aldeia. Dois emigraram para França, um para a Alemanha, onde trabalhavam nas obras e o terceiro foi para Lisboa onde praticava a profissão de travesti. Dos dois que foram para França não havia rasto, do que foi para a Alemanha ficou rasto em Possacos, mas também nunca mais voltou à aldeia materna, quanto ao de Lisboa nunca mais se soube nada dele, só muito mais tarde é que deu sinais de vida ao aparecer, anos mais tarde, um pouco envergonhado, na barbearia do irmão em São Pedro da Cova.
De facto o irmão que fugiu para a Alemanha, o Tonho, ficou rasto em Possacos. O Tonho, quando tinha 17 anos, engravidou a Deolinda, uma moçoila generosa da aldeia. Com medo das consequências, mas também para se livrar da tropa e da Guerra Colonial, fugiu a salto para a Alemanha. Quanto à Deolinda foi trabalhar para uma barra em Espanha e o rebento, uma menina de nome Noémia, sensivelmente da idade do Gulho, ficou a cargo dos avós, que finalmente tinham a menina que tanto tentaram alcançar, mas que por falta de pontaria nunca tinham conseguido.
O Casal Fragulho era rendeiro das terras do Dr. Antunes, proprietário absentista e advogado no Porto. O Dr Antunes só vinha à aldeia na altura de reclamar o seu quinhão das colheitas. O casal Fragulho, apesar de viver em péssimas condições e de ser indecentemente explorado pelo Dr. Antunes, vivia resignado e, tementes a Deus, nunca contestaram as arbitrariedades do advogado. Apesar das dificuldades lá conseguiram dar a quarta classe aos filhos e, orgulhosos da neta, fizeram das tripas coração e lá conseguiram, acabada a quarta classe, enviar a Noémia para o Liceu de Vila Real e mais tarde para o Porto onde tirou o curso de Enfermagem.
Por volta de 1958 o casal Fragulho envolveu-se na política. Vivia-se um período de exaltação no País com a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República. Em Possacos, tal como em todas as aldeias, vilas e até cidades desse País profundo surgiram os espantalhos do medo. A Igreja, comprometida com o regime, apelava ao boicote da candidatura do General Sem Medo. As histórias contadas eram básicas, mas surtiram efeito num País analfabeto e mergulhado no obscurantismo. Diziam os padres na igreja que o General era comunista, que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço e vinham aí para roubar as terras aos seus legítimos proprietários para as dar aos seus amigos. O Sr. Fragulho pai, que não tinha terras e trabalhava, por favor, quase como escravo ou servo da gleba da Idade Média, nas terras do Dr. Antunes, teve medo. Teve medo de perder a terra que não era sua e, sobretudo, que os comunistas lhe comessem, literalmente, a luz dos seus olhos, a Noeminha. Vai daí, convocado pelo presidente da Casa do Povo e instigado pelo padre, no dia das eleições prestou um serviço à Pátria falsificando centenas de boletins de voto para que o Almirante Américo Thomaz, candidato apoiado pelo Dr. Salazar, ganhasse as eleições. Foi através da manipulação e falsificação do voto que o homem que parecia um vendedor de gelados de praia ganhou as eleições e se manteve no poleiro até ao 25 de Abril de 1974.
O Gulho, rapaz esperto, acabou com distinção a quarta classe, mas como as posses eram poucas e os pais só tinham olhos para a neta, foi trabalhar como aprendiz de barbeiro com o Sr. Zeca, único barbeiro de Possacos. Mais tarde esta aprendizagem veio a ser-lhe muito útil.
Nascido na aldeia de Possacos, entre Valpaços e Vinhais, era o nono filho macho do casal Fragulho, o rapaz tinha sido a última e desesperada tentativa do casal conseguir uma menina. Quando nasceu já a mãe andava na casa dos quarenta e o pai na dos cinquenta.
Dos seus oito irmãos já tinham morrido quatro. Um dois dias depois do parto, dois com menos de três anos e o quarto afogou-se por volta dos dez anos no rio que passava próximo da aldeia quando se encontrava a fazer uma exibição de mergulho para os amigos.
Dos quatro sobreviventes, todos muito mais velhos que o Gulho, não havia rasto. Devidos às péssimas condições de vida todos tinham abandonado a aldeia. Dois emigraram para França, um para a Alemanha, onde trabalhavam nas obras e o terceiro foi para Lisboa onde praticava a profissão de travesti. Dos dois que foram para França não havia rasto, do que foi para a Alemanha ficou rasto em Possacos, mas também nunca mais voltou à aldeia materna, quanto ao de Lisboa nunca mais se soube nada dele, só muito mais tarde é que deu sinais de vida ao aparecer, anos mais tarde, um pouco envergonhado, na barbearia do irmão em São Pedro da Cova.
De facto o irmão que fugiu para a Alemanha, o Tonho, ficou rasto em Possacos. O Tonho, quando tinha 17 anos, engravidou a Deolinda, uma moçoila generosa da aldeia. Com medo das consequências, mas também para se livrar da tropa e da Guerra Colonial, fugiu a salto para a Alemanha. Quanto à Deolinda foi trabalhar para uma barra em Espanha e o rebento, uma menina de nome Noémia, sensivelmente da idade do Gulho, ficou a cargo dos avós, que finalmente tinham a menina que tanto tentaram alcançar, mas que por falta de pontaria nunca tinham conseguido.
O Casal Fragulho era rendeiro das terras do Dr. Antunes, proprietário absentista e advogado no Porto. O Dr Antunes só vinha à aldeia na altura de reclamar o seu quinhão das colheitas. O casal Fragulho, apesar de viver em péssimas condições e de ser indecentemente explorado pelo Dr. Antunes, vivia resignado e, tementes a Deus, nunca contestaram as arbitrariedades do advogado. Apesar das dificuldades lá conseguiram dar a quarta classe aos filhos e, orgulhosos da neta, fizeram das tripas coração e lá conseguiram, acabada a quarta classe, enviar a Noémia para o Liceu de Vila Real e mais tarde para o Porto onde tirou o curso de Enfermagem.
Por volta de 1958 o casal Fragulho envolveu-se na política. Vivia-se um período de exaltação no País com a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República. Em Possacos, tal como em todas as aldeias, vilas e até cidades desse País profundo surgiram os espantalhos do medo. A Igreja, comprometida com o regime, apelava ao boicote da candidatura do General Sem Medo. As histórias contadas eram básicas, mas surtiram efeito num País analfabeto e mergulhado no obscurantismo. Diziam os padres na igreja que o General era comunista, que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço e vinham aí para roubar as terras aos seus legítimos proprietários para as dar aos seus amigos. O Sr. Fragulho pai, que não tinha terras e trabalhava, por favor, quase como escravo ou servo da gleba da Idade Média, nas terras do Dr. Antunes, teve medo. Teve medo de perder a terra que não era sua e, sobretudo, que os comunistas lhe comessem, literalmente, a luz dos seus olhos, a Noeminha. Vai daí, convocado pelo presidente da Casa do Povo e instigado pelo padre, no dia das eleições prestou um serviço à Pátria falsificando centenas de boletins de voto para que o Almirante Américo Thomaz, candidato apoiado pelo Dr. Salazar, ganhasse as eleições. Foi através da manipulação e falsificação do voto que o homem que parecia um vendedor de gelados de praia ganhou as eleições e se manteve no poleiro até ao 25 de Abril de 1974.
O Gulho, rapaz esperto, acabou com distinção a quarta classe, mas como as posses eram poucas e os pais só tinham olhos para a neta, foi trabalhar como aprendiz de barbeiro com o Sr. Zeca, único barbeiro de Possacos. Mais tarde esta aprendizagem veio a ser-lhe muito útil.
O Parafuso 4
Estava Nelita atrás do arbusto quando vislumbrou, alguns metros mais à frente, o seu sacristão,o seu querido sacristão, com uma magana toda emperaltada com os seios quase à mostra e o saiote quase pendurado ao pescoço, ambos num movimento de vai-vem que Nelita nessa altura não entendeu. Somente quando viu que o seu querido Alberto se despediu da magana com um beijo...
Bem, Nelita quase sentiu o seu peito explodir, sentiu a tez ficar-lhe vermelha de raiva, sentiu suas pernas tremerem e as lágrimas saltarem dos olhos que nem num jacto de água! Pobre Nelita... alí ficou banhada em lágrimas envolta na sua dor...
Alberto era na altura o sacristão, um moço tosco, de corpo em “V”, alto, moreno, de olhos esverdeados, de sorriso atrevido, um verdadeiro quebra corações.
Nos dias que se seguiram Nelita ficara muda (se bem que Nelita não era uma adolescente muito faladora) com a tez pálida... A mãe, a Dona Ermelinda, dizia que o melhor seria comprar remédio das bichas para dar à catraia, não fosse algum bicharoco estar a roubar-lhe o apetite.
Passaram-se algumas semanas após o acontecido e era chegada a notícia que Alberto iria para outras terras, longe de Barroselas. O coração de Nelita ficara arrasado com a notícia pois não mais veria o seu querido Alberto...
Bem, rei morto, rei posto! Ao cabo de alguns dias, após a partida de Alberto, eis que chega o novo sacristão! Um rapaz cheio de nove horas, vindo não se sabe bem de onde e que viria àquela terra para reencontrar a sua missão: a de ser padre!
Assim que Nelita lhe pôs a vista em cima o seu coração exultou de alegria!
E o que aconteceu ao pai de Nelita? Não se sabe, porque Nelita decidiu voltar atrás e fazer o caminho mais longo para casa conforme recomendação dos pais.
Bem, Nelita quase sentiu o seu peito explodir, sentiu a tez ficar-lhe vermelha de raiva, sentiu suas pernas tremerem e as lágrimas saltarem dos olhos que nem num jacto de água! Pobre Nelita... alí ficou banhada em lágrimas envolta na sua dor...
Alberto era na altura o sacristão, um moço tosco, de corpo em “V”, alto, moreno, de olhos esverdeados, de sorriso atrevido, um verdadeiro quebra corações.
Nos dias que se seguiram Nelita ficara muda (se bem que Nelita não era uma adolescente muito faladora) com a tez pálida... A mãe, a Dona Ermelinda, dizia que o melhor seria comprar remédio das bichas para dar à catraia, não fosse algum bicharoco estar a roubar-lhe o apetite.
Passaram-se algumas semanas após o acontecido e era chegada a notícia que Alberto iria para outras terras, longe de Barroselas. O coração de Nelita ficara arrasado com a notícia pois não mais veria o seu querido Alberto...
Bem, rei morto, rei posto! Ao cabo de alguns dias, após a partida de Alberto, eis que chega o novo sacristão! Um rapaz cheio de nove horas, vindo não se sabe bem de onde e que viria àquela terra para reencontrar a sua missão: a de ser padre!
Assim que Nelita lhe pôs a vista em cima o seu coração exultou de alegria!
E o que aconteceu ao pai de Nelita? Não se sabe, porque Nelita decidiu voltar atrás e fazer o caminho mais longo para casa conforme recomendação dos pais.
O Parafuso 3
A Dona Nélia, ou Nelita para a família e amigos mais chegados, a professora primária de Dassilva, mulher de muitos predicados, era uma mulher fascinante pois por onde passasse todos se voltavam para vislumbrar as suas protuberâncias traseiras que lhe valeram o passaporte para Couce.
Nelita, natural de Barroselas, em Viana do Castelo, teria sido uma menina recatada e educada no seio de uma família tradicional muito religiosa. Depois da eucaristia dominical e da troca de olhares com o sacristão, acontecimento que Nelita ansiava durante toda a semana, os almoços domingueiros eram passados em família e decorriam no mais absoluto silêncio, apenas o pai, o Sr. António Fragueiro, e o seu compadre, o Sr. Armindo Dias, primos por parte dos respectivos pais, teriam direito à palavra durante o repasto. Falavam eles dos negócios de gado que iam realizando e volta e meia trocavam algumas palavras sobre a Sra. D. Gertrudes, proprietária e gerente de um espaço comercial na Rua do Almirante, que Nelita não compreendia, dado o sussurrar de ambos…
Sempre que ouvia alguma referência à tal casa comercial, Nelita fazia uma viagem até o mês de Junho do ano anterior.
O episódio decorreu por ocasião da festa do padroeiro da terra, S. Pedro, contando ela na altura com 14 anos.
Estava ela de regresso a casa, depois da noitada passada com as primas de Darque, quando se depara com o pai estatelado no colo de uma moça de lábios encarnados e de decote generoso que lhe ia dando de beber de uma jarra de barro alternando os goles com umas gargalhadas. Nelita parou e rapidamente se escondeu atrás de um arbusto para tentar entender o que se passava. Recorda que na altura aquela rua deixara de ser tão movimentada desde que a D. Balbina, catequista e zeladora dos altares da igreja, se teria metido em alguma confusão que levaria praticamente todas as mulheres da paróquia a fazer um grande alarido à porta do referido espaço comercial. Desde esse dia, a populaça deixara de passar por aquela rua, mas Nelita, e visto o avançado da hora, optou naquela noite por desobedecer às ordens dos pais relativamente à proibição de passar por ali.
Nelita não acreditava, atrás do arbusto, no que os seus olhos castanhos viram naquela noite…
Nelita, natural de Barroselas, em Viana do Castelo, teria sido uma menina recatada e educada no seio de uma família tradicional muito religiosa. Depois da eucaristia dominical e da troca de olhares com o sacristão, acontecimento que Nelita ansiava durante toda a semana, os almoços domingueiros eram passados em família e decorriam no mais absoluto silêncio, apenas o pai, o Sr. António Fragueiro, e o seu compadre, o Sr. Armindo Dias, primos por parte dos respectivos pais, teriam direito à palavra durante o repasto. Falavam eles dos negócios de gado que iam realizando e volta e meia trocavam algumas palavras sobre a Sra. D. Gertrudes, proprietária e gerente de um espaço comercial na Rua do Almirante, que Nelita não compreendia, dado o sussurrar de ambos…
Sempre que ouvia alguma referência à tal casa comercial, Nelita fazia uma viagem até o mês de Junho do ano anterior.
O episódio decorreu por ocasião da festa do padroeiro da terra, S. Pedro, contando ela na altura com 14 anos.
Estava ela de regresso a casa, depois da noitada passada com as primas de Darque, quando se depara com o pai estatelado no colo de uma moça de lábios encarnados e de decote generoso que lhe ia dando de beber de uma jarra de barro alternando os goles com umas gargalhadas. Nelita parou e rapidamente se escondeu atrás de um arbusto para tentar entender o que se passava. Recorda que na altura aquela rua deixara de ser tão movimentada desde que a D. Balbina, catequista e zeladora dos altares da igreja, se teria metido em alguma confusão que levaria praticamente todas as mulheres da paróquia a fazer um grande alarido à porta do referido espaço comercial. Desde esse dia, a populaça deixara de passar por aquela rua, mas Nelita, e visto o avançado da hora, optou naquela noite por desobedecer às ordens dos pais relativamente à proibição de passar por ali.
Nelita não acreditava, atrás do arbusto, no que os seus olhos castanhos viram naquela noite…
segunda-feira, 20 de abril de 2009
O Parafuso 2
A. Silva, ou Dassilva como lhe chamavam os amigos, ficava muitas vezes na sua marisqueira de Leça depois do último cliente sair e, fechada a casa de pasto, recostava-se numa das cadeiras da cozinha a beberricar um copo de whisky e a ouvir Tina Turner com o volume no máximo.
Nesses períodos de introspecção lamentava nunca ter passado da 4ª classe, pois chumbara frequentemente no exame de admissão à Escola Técnica. Recordava o enxerto de porrada que levou dos colega invejosos, mas graças ao facto de ter nascido com parafusos a menos lá conseguiu ultrapassar a malfada tareia que levou e recordava, com um certo gozo e alguma comichão nas virilhas, o gozo que lhe proporcionou ter encontrado um parafuso que lhe valeu passar de besta a bestial.
Mas vejamos como tudo se passou.
Para ultrapassar aquele momento resolveu inventar que os óculos novos, ou melhor os óculos com o parafuso encontrado, tinham um poder mágico. Com eles conseguia obter uma visão de raios X que lhe permitiam vasculhar os interiores da Dona Nélia, professora recém chegada à escola, de formas generosas , a qual depois de ter andado pelo convento, percebeu que a sua verdadeira vocação era ensinar crianças para sobreviverem às agruras da vida.
Voluptuosa e generosa, provocava os rapazes que, até aí barulhentos, passaram a estar silenciosos, babando-se a cada movimento de anca da Dona Nélia. Em desespero de causa chamavam-na frequentemente para esclarecer as dúvidas constantes. Com esta artimanha aproveitavam para espreitar o seio generoso da Dona Nélia.
Um dos adereços da Dona Nélia, mais cobiçado pelos rapazes era um grosso crucifixo que esta galhardamente usava. Os rapazolas imaginavam os pés do Cristo a acariciar os pelos púbicos da Dona Nélia, enquanto os dedos das mãos do dito cujo rodavam os mamilos rijos da Dona Nélia.
Numa escola masculina, onde as raparigas eram uma mera miragem, as aulas decorriam normalmente, nunca mais houve notícias de zaragatas no recreio. Sempre que chegava a hora dos recreio os rapazolas corriam para a casa de banho, onde faziam concursos de punheta e punham em dia o puzzle que cada um tinha conseguido ver à sensual Dona Nélia. Quando se aproximava a hora de regressar à aula lá havia nova correria à casa de banho para actualizar as últimas informações e à hora certa lá entravam todos, vermelhuscos, mas com uma atenção redobrada sobre a matéria da Dona Nélia.
Desta forma davam largas à imaginação e durante a noite as nódoas aumentavam nos lençóis brancos para desespero das respectivas mães.
O Dassilva ganhou a consideração dos colegas, pois com a sua visão de raios X conseguia ver o que nenhum mais via. todos lhe pediam os famosos óculos para tentar descobris o que estava por baixo do generoso vestido de chita da Dona Nélia, mas infelizmente a visão especial só funcionava com o Dassilva. Devido a esta extraordinária e única visão, o Dassilva tornou-se no heróis da turma e, de desprezado, passou a ser admirado.
No recreio, depois do concurso supracitado, todos se reuniam em torno do Dassilva para que este lhes contasse mais coisas que tinha visto dentro do vestido da Dona Nélia, ao que o rapaz não se fazia rogado.
Para que a imaginação não lhe faltasse ia frequentemente ao Sr. Fragulho, transmontano de gema e barbeiro da rua da Senhora do Ó. Lia à socapa uns livritos do Vilhena que por lá estavam, mesmo que algumas das nódoas não lhe deixassem ler o texto na sua plenitude, o Dassilva passava largos momentos a observar os desenhos do livro, chegando mesmo ao ponto de, enquanto esperava pelo corte à tigela, decalcar alguns desses desenhos com papel vegetal e assim apimentar ainda mais as histórias que contava sobre o magnífico corpo da Dona Nélia.
Nesses períodos de introspecção lamentava nunca ter passado da 4ª classe, pois chumbara frequentemente no exame de admissão à Escola Técnica. Recordava o enxerto de porrada que levou dos colega invejosos, mas graças ao facto de ter nascido com parafusos a menos lá conseguiu ultrapassar a malfada tareia que levou e recordava, com um certo gozo e alguma comichão nas virilhas, o gozo que lhe proporcionou ter encontrado um parafuso que lhe valeu passar de besta a bestial.
Mas vejamos como tudo se passou.
Para ultrapassar aquele momento resolveu inventar que os óculos novos, ou melhor os óculos com o parafuso encontrado, tinham um poder mágico. Com eles conseguia obter uma visão de raios X que lhe permitiam vasculhar os interiores da Dona Nélia, professora recém chegada à escola, de formas generosas , a qual depois de ter andado pelo convento, percebeu que a sua verdadeira vocação era ensinar crianças para sobreviverem às agruras da vida.
Voluptuosa e generosa, provocava os rapazes que, até aí barulhentos, passaram a estar silenciosos, babando-se a cada movimento de anca da Dona Nélia. Em desespero de causa chamavam-na frequentemente para esclarecer as dúvidas constantes. Com esta artimanha aproveitavam para espreitar o seio generoso da Dona Nélia.
Um dos adereços da Dona Nélia, mais cobiçado pelos rapazes era um grosso crucifixo que esta galhardamente usava. Os rapazolas imaginavam os pés do Cristo a acariciar os pelos púbicos da Dona Nélia, enquanto os dedos das mãos do dito cujo rodavam os mamilos rijos da Dona Nélia.
Numa escola masculina, onde as raparigas eram uma mera miragem, as aulas decorriam normalmente, nunca mais houve notícias de zaragatas no recreio. Sempre que chegava a hora dos recreio os rapazolas corriam para a casa de banho, onde faziam concursos de punheta e punham em dia o puzzle que cada um tinha conseguido ver à sensual Dona Nélia. Quando se aproximava a hora de regressar à aula lá havia nova correria à casa de banho para actualizar as últimas informações e à hora certa lá entravam todos, vermelhuscos, mas com uma atenção redobrada sobre a matéria da Dona Nélia.
Desta forma davam largas à imaginação e durante a noite as nódoas aumentavam nos lençóis brancos para desespero das respectivas mães.
O Dassilva ganhou a consideração dos colegas, pois com a sua visão de raios X conseguia ver o que nenhum mais via. todos lhe pediam os famosos óculos para tentar descobris o que estava por baixo do generoso vestido de chita da Dona Nélia, mas infelizmente a visão especial só funcionava com o Dassilva. Devido a esta extraordinária e única visão, o Dassilva tornou-se no heróis da turma e, de desprezado, passou a ser admirado.
No recreio, depois do concurso supracitado, todos se reuniam em torno do Dassilva para que este lhes contasse mais coisas que tinha visto dentro do vestido da Dona Nélia, ao que o rapaz não se fazia rogado.
Para que a imaginação não lhe faltasse ia frequentemente ao Sr. Fragulho, transmontano de gema e barbeiro da rua da Senhora do Ó. Lia à socapa uns livritos do Vilhena que por lá estavam, mesmo que algumas das nódoas não lhe deixassem ler o texto na sua plenitude, o Dassilva passava largos momentos a observar os desenhos do livro, chegando mesmo ao ponto de, enquanto esperava pelo corte à tigela, decalcar alguns desses desenhos com papel vegetal e assim apimentar ainda mais as histórias que contava sobre o magnífico corpo da Dona Nélia.
O Parafuso 1
A. Silva (nome fictício, o seu verdadeiro nome é Domingos Leitão Moreira e reside na Rua Nova do Seixo, 396 2º Esq. Fr., 4460-783 Custóias) nasceu não com um mas com dois parafusos a menos.
Ao cabo de muita instrução primária e corrigindo erros de cálculo à palmatória lá conseguiu encontrar o primeiro, alojado nos entrefolhos da primeira fralda que usou, em tecido de algodão e religiosamente guardada pela madrinha de baptismo, com a primeira caquinha e tudo, quando a foi visitar pela Páscoa e a encontrou com o pé p’rá cova, que nem folar teve tempo de preparar para o afilhado.
Como as letras a giz que a professora paulatinamente debitava no quadro de lousa o tivessem, desde há uns meses, obrigado a semicerrar os olhos para não ver a lição desfocada, era já feliz proprietário de um par de óculos e vítima da inveja dos colegas de classe, que não estiveram com meias medidas e lhe partiram o focinho à traição no recreio, deixando-lhe uma haste desconcertada e solta.
Para não se queixar em casa (levava logo outra tareia do pai) recorreu ao engenho, e consertou os óculos com a ajuda do parafuso perdido. Descobriu então que o par de óculos utilizava dois, um para cada haste, e previdente como era empreendeu nova busca, um parafuso sobressalente seria da maior importância caso os invejosos da classe resolvessem repetir a dose de enxerto de porrada. Não encontrou um nem dois, mas sim milhares, com formas, feitios e cores do mais variado que se podia imaginar, tanto que fundou, anos mais tarde, a loja de ferragens Leitão Moreira & Filhos, Lda. na Rua do Almada, Porto, hoje infelizmente transformada em loja chinesa por motivo de insolvência (a maldita crise, à mistura com a concorrência das grandes superfícies em matéria de bricolage lá lhe foram levando os clientes).
A. Silva é hoje proprietário de uma marisqueira de renome em Leça da Palmeira, e nunca se esquecerá da lição que a vida lhe proporcionou, ao fazer com que nascesse com parafusos a menos.
Ao cabo de muita instrução primária e corrigindo erros de cálculo à palmatória lá conseguiu encontrar o primeiro, alojado nos entrefolhos da primeira fralda que usou, em tecido de algodão e religiosamente guardada pela madrinha de baptismo, com a primeira caquinha e tudo, quando a foi visitar pela Páscoa e a encontrou com o pé p’rá cova, que nem folar teve tempo de preparar para o afilhado.
Como as letras a giz que a professora paulatinamente debitava no quadro de lousa o tivessem, desde há uns meses, obrigado a semicerrar os olhos para não ver a lição desfocada, era já feliz proprietário de um par de óculos e vítima da inveja dos colegas de classe, que não estiveram com meias medidas e lhe partiram o focinho à traição no recreio, deixando-lhe uma haste desconcertada e solta.
Para não se queixar em casa (levava logo outra tareia do pai) recorreu ao engenho, e consertou os óculos com a ajuda do parafuso perdido. Descobriu então que o par de óculos utilizava dois, um para cada haste, e previdente como era empreendeu nova busca, um parafuso sobressalente seria da maior importância caso os invejosos da classe resolvessem repetir a dose de enxerto de porrada. Não encontrou um nem dois, mas sim milhares, com formas, feitios e cores do mais variado que se podia imaginar, tanto que fundou, anos mais tarde, a loja de ferragens Leitão Moreira & Filhos, Lda. na Rua do Almada, Porto, hoje infelizmente transformada em loja chinesa por motivo de insolvência (a maldita crise, à mistura com a concorrência das grandes superfícies em matéria de bricolage lá lhe foram levando os clientes).
A. Silva é hoje proprietário de uma marisqueira de renome em Leça da Palmeira, e nunca se esquecerá da lição que a vida lhe proporcionou, ao fazer com que nascesse com parafusos a menos.
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