segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Parafuso 2

A. Silva, ou Dassilva como lhe chamavam os amigos, ficava muitas vezes na sua marisqueira de Leça depois do último cliente sair e, fechada a casa de pasto, recostava-se numa das cadeiras da cozinha a beberricar um copo de whisky e a ouvir Tina Turner com o volume no máximo.

Nesses períodos de introspecção lamentava nunca ter passado da 4ª classe, pois chumbara frequentemente no exame de admissão à Escola Técnica. Recordava o enxerto de porrada que levou dos colega invejosos, mas graças ao facto de ter nascido com parafusos a menos lá conseguiu ultrapassar a malfada tareia que levou e recordava, com um certo gozo e alguma comichão nas virilhas, o gozo que lhe proporcionou ter encontrado um parafuso que lhe valeu passar de besta a bestial.

Mas vejamos como tudo se passou.


Para ultrapassar aquele momento resolveu inventar que os óculos novos, ou melhor os óculos com o parafuso encontrado, tinham um poder mágico. Com eles conseguia obter uma visão de raios X que lhe permitiam vasculhar os interiores da Dona Nélia, professora recém chegada à escola, de formas generosas , a qual depois de ter andado pelo convento, percebeu que a sua verdadeira vocação era ensinar crianças para sobreviverem às agruras da vida.

Voluptuosa e generosa, provocava os rapazes que, até aí barulhentos, passaram a estar silenciosos, babando-se a cada movimento de anca da Dona Nélia. Em desespero de causa chamavam-na frequentemente para esclarecer as dúvidas constantes. Com esta artimanha aproveitavam para espreitar o seio generoso da Dona Nélia.

Um dos adereços da Dona Nélia, mais cobiçado pelos rapazes era um grosso crucifixo que esta galhardamente usava. Os rapazolas imaginavam os pés do Cristo a acariciar os pelos púbicos da Dona Nélia, enquanto os dedos das mãos do dito cujo rodavam os mamilos rijos da Dona Nélia.

Numa escola masculina, onde as raparigas eram uma mera miragem, as aulas decorriam normalmente, nunca mais houve notícias de zaragatas no recreio. Sempre que chegava a hora dos recreio os rapazolas corriam para a casa de banho, onde faziam concursos de punheta e punham em dia o puzzle que cada um tinha conseguido ver à sensual Dona Nélia. Quando se aproximava a hora de regressar à aula lá havia nova correria à casa de banho para actualizar as últimas informações e à hora certa lá entravam todos, vermelhuscos, mas com uma atenção redobrada sobre a matéria da Dona Nélia.

Desta forma davam largas à imaginação e durante a noite as nódoas aumentavam nos lençóis brancos para desespero das respectivas mães.

O Dassilva ganhou a consideração dos colegas, pois com a sua visão de raios X conseguia ver o que nenhum mais via. todos lhe pediam os famosos óculos para tentar descobris o que estava por baixo do generoso vestido de chita da Dona Nélia, mas infelizmente a visão especial só funcionava com o Dassilva. Devido a esta extraordinária e única visão, o Dassilva tornou-se no heróis da turma e, de desprezado, passou a ser admirado.

No recreio, depois do concurso supracitado, todos se reuniam em torno do Dassilva para que este lhes contasse mais coisas que tinha visto dentro do vestido da Dona Nélia, ao que o rapaz não se fazia rogado.

Para que a imaginação não lhe faltasse ia frequentemente ao Sr. Fragulho, transmontano de gema e barbeiro da rua da Senhora do Ó. Lia à socapa uns livritos do Vilhena que por lá estavam, mesmo que algumas das nódoas não lhe deixassem ler o texto na sua plenitude, o Dassilva passava largos momentos a observar os desenhos do livro, chegando mesmo ao ponto de, enquanto esperava pelo corte à tigela, decalcar alguns desses desenhos com papel vegetal e assim apimentar ainda mais as histórias que contava sobre o magnífico corpo da Dona Nélia.

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