quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Parafuso 3

A Dona Nélia, ou Nelita para a família e amigos mais chegados, a professora primária de Dassilva, mulher de muitos predicados, era uma mulher fascinante pois por onde passasse todos se voltavam para vislumbrar as suas protuberâncias traseiras que lhe valeram o passaporte para Couce.

Nelita, natural de Barroselas, em Viana do Castelo, teria sido uma menina recatada e educada no seio de uma família tradicional muito religiosa. Depois da eucaristia dominical e da troca de olhares com o sacristão, acontecimento que Nelita ansiava durante toda a semana, os almoços domingueiros eram passados em família e decorriam no mais absoluto silêncio, apenas o pai, o Sr. António Fragueiro, e o seu compadre, o Sr. Armindo Dias, primos por parte dos respectivos pais, teriam direito à palavra durante o repasto. Falavam eles dos negócios de gado que iam realizando e volta e meia trocavam algumas palavras sobre a Sra. D. Gertrudes, proprietária e gerente de um espaço comercial na Rua do Almirante, que Nelita não compreendia, dado o sussurrar de ambos…

Sempre que ouvia alguma referência à tal casa comercial, Nelita fazia uma viagem até o mês de Junho do ano anterior.

O episódio decorreu por ocasião da festa do padroeiro da terra, S. Pedro, contando ela na altura com 14 anos.

Estava ela de regresso a casa, depois da noitada passada com as primas de Darque, quando se depara com o pai estatelado no colo de uma moça de lábios encarnados e de decote generoso que lhe ia dando de beber de uma jarra de barro alternando os goles com umas gargalhadas. Nelita parou e rapidamente se escondeu atrás de um arbusto para tentar entender o que se passava. Recorda que na altura aquela rua deixara de ser tão movimentada desde que a D. Balbina, catequista e zeladora dos altares da igreja, se teria metido em alguma confusão que levaria praticamente todas as mulheres da paróquia a fazer um grande alarido à porta do referido espaço comercial. Desde esse dia, a populaça deixara de passar por aquela rua, mas Nelita, e visto o avançado da hora, optou naquela noite por desobedecer às ordens dos pais relativamente à proibição de passar por ali.

Nelita não acreditava, atrás do arbusto, no que os seus olhos castanhos viram naquela noite…

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