quinta-feira, 23 de abril de 2009

O Parafuso 9

Um dia o Sr. António Fragueiro, pai de Nelita, pensou lá para os seus botões que estaria já na devida altura da sua filha desposar algum comerciante de gado da região, visto que a populaça andaria já a cochichar sobre os verdadeiros intuitos que motivavam as incursões à mata da vila.

Facto é que Nelita, ante a proposta do pai em arranjar-lhe um maridúncio a preceito, revoltou-se e recusou tal ideia. Bem, o Sr. António Fragueiro viu-se então coagido a mandá-la para o Convento de Santa Ana por forma a silenciar a populaça que cada vez mais fazia rumor sobre a questão.

Nelita e Arnaldo anuíram que o mais sensato seria não contestar a decisão do Sr. António Fragueiro, até porque assim aproveitaria a possibilidade para estudar num qualquer métier que lhe viesse a dar frutos no futuro. Nelita, para além de uma grande mulheraça, era uma mulher muito inteligente e interessava-se bastante pela leitura e era um ás a contar as receitas no final de cada eucaristia. Os dois acordaram que trocariam correspondência e assim não perderiam o contacto um com o outro.

E assim foi, em menos de um mês Nelita ingressou no Convento de Santa Ana para estudar Latim, Francês, Português e Matemática. A Dona Ermelinda é que não cabia em si de contente! Ter uma filha freira! Era uma ideia que a fascinava, pois teria sido o sonho da vida dela, mas o pai, avô de Nelita, obrigou-a a casar com o homem mais rico e influente da região, claro está o Sr. António Fragueiro!

Os dias foram passando e Nelita vivia os dias em autêntica clausura, alimentada apenas pela esperança em receber as cartas de amor de Arnaldo. Mas…nunca chegaram! Apenas a mãe escrevia relatando as novidades da vila.

Os únicos instantes em que se conseguia abstrair dos momentos passados junto de Arnaldo, eram os que passava com o Mestre Alípio que era o seu professor particular das várias disciplinas atrás referidas.

O Mestre Alípio era um rapazote de cerca de 25 anos, sobrinho da Madre superiora, que vivia enfiado lá no Convento e que acreditava muito em Nelita. Ele pensava que ela poderia vir a tornar-se numa belíssima professora do ensino básico e sentia que deveria ser ele o verdadeiro impulsionador para que tal acontecesse.

Entretanto, Nelita sonhava com notícias de Arnaldo e, de facto, elas não tardaram em chegar…

Numa carta da sua mãe, a Sra. Dona Ermelinda conta em duas linhas que o sacristão Arnaldo, o futuro padre, teria morrido engasgado com um osso de frango na casa comercial da Sra. Dona Gertrudes, sita na Rua do Almirante.


Nelita não acreditava no que os seus olhos liam! O seu amor frequentava a casa da Sra. Dona Gertrudes? Entretanto, Nelita tinha já entendido o que de facto aquela casa comercializava…

Pena ter morrido, senão teria apanhado o primeiro comboio rumo a Barroselas para lhe exigir as devidas satisfações!

3 comentários:

Mimo disse...

Caríssimos,

Pretendo terminar a história da Nelita assim que a colocar em Couce, o que está prestes a acontecer...e depois acho que estaria na altura, assim que terminarem as caracterizações, de "meter" o povo todo ao barulho.

Bjs

Seabra disse...

Ainda bem que avisas, Mimo, eu já a tinha colocado a guiar uma Kreidler e a parar na mercearia do Sr. França, no regresso trabalho-casa vinda de S. Pedro da Cova e em direccão a Couce. Não precisas de dar explicações, acho que já entraste no espírito da coisa!

Seabra disse...

PS: com as redundâncias do meu comentário anterior esqueci-me de te sugerir que mudasses o nome do Sr. Fragueiro, fica muito parecido com Fragulho e pode dificultar a leitura. Aceita se assim o entenderes, é mesmo só uma sugestão!